Holanda

Ele se afastou, um beijo suave para um homem tão poderoso. Acompanhei-o com os olhos, eu estaria ficando por demais na defesa? Está não era eu... E isto não me agradava. Ele falou sobre desafios, certamente, tudo que passei nada chegaria aos pés do que ele já vivenciou. Disse que se eu ficasse ao seu lado, talvez eu reconheceria um verdadeiro desafio.

― Acredito, que devemos subir os degraus... Quando era recém criada, o que eu faço hoje parecia ser impossível... O contrario deve ser o que vê em mim... Coisas banais que o senhor faria em um estalar de dedos... Mas um dia eu chegarei lá, não sou de me entregar fácil... O perigo me atrai, porem não sou do tipo idiota de me jogar de cabeça em qualquer loucura... Mas ainda sim gosto de pensar grande, buscar sempre mais... Afinal, do que importa a imortalidade se viver na monotonia.

Logo um homem apareceu, um humano... Me lembrava Ethan, mas claro se Ethan possuísse tanto respeito como ele, me cansaria fácil, fácil... Me explicou que ele seria meu guia, nada contra seguir as ordens de um humano, afinal conhecia humanos mais espertos e uteis que muitos vampiros que caminhavam por ai. Caminhei para perto de Nicolau, me encostando na mesa ao seu lado.

― Tens já minha total atenção Nicolau... ― Disse olhando-o de perto, gostava de proximidade ― Espero que não se importe... Não que não escute bem, mas gosto de ver os detalhes ― de baixo ele deveria ter uma bela visão do meu corpo, mas isso não me importava, olhei para Speed e o cumprimentei com sorriso, pegando duas uvas que se dispunham em uma tigela perto do acento de Nicolau. 

A vampira ainda era pura e inocente no mundo dos vampiros, era evidente que por mais ameaça que tivera tudo fora simples, básico arriscando a dizer até fácil em sua maioria, a única semelhança que os vampiros possuíam com os humanos era o desejo de se manter e sentir vivo.

Ela caminhou como se flutuasse pelo chão, como se a gravidade que prende todos os terrestres não se aplicasse a ela, parou seu caminho ao lado de Nicolau, enquanto ela o olhava dizendo que  tinha a total atenção dela, continuou  a falar querendo saber os detalhes, de fato era uma curiosa.

O corpo dela era uma visão agradável aos olhos uma beleza que jamais seria manchada pelo tempo, apagada ou desgastada, a visão de Nicolau lhe arrancou um sorriso de divertimento, era hilário para ele ver o jogo de sedução sutil que ela aplicava nele, sem impedir deixou para ver até onde aquilo iria.

Olhou para o humano e sorriu, talvez pensando como seria bom sugar o sangue dele, ela pegou duas uvas, o vampiro colocou a mão no queixo, ergueu uma sobrancelha é disse:

―Sophia Hills, sinto que você possa ser a peça que falta em meu tabuleiro, es uma vampirinha ousada, corajosa mais acima disso inteligente, uma inteligência que pode saber blefar no momento certo. Porém uma advertência... Saia da linha comigo uma única vez. Acredite que possa fazer algo que eu não saiba... como a troca de sangue que teve com um outro vampiro, é não terá tempo sequer para se arrepender.

O tom havia mudado tão rápido é inesperado que por instinto Speed se afastou, Nicolau continuou olhando para a vampira.

― Minha ambição é grande tão grande que você sequer pode imaginar, tudo que tenho armado levou milhares de anos para  chegar aonde estou hoje, como um ser paciente que precisei ser, descobri que certas coisas é preciso paciência, Speed está comigo a um bom tempo mais que para mim não passa de um piscar de olhos, antes dele outros vieram, porém ele não é jantar ou lanchinho não se alimente dele, por mais seca que esteja... Pois acredito que provações assim virão.

Se calou quando a música mudou seu ritmo, agora não eram mais violinos nem piano, era uma melodia que começava com o doce som de uma flauta, sendo seguida por uma bateria ritmada.

Nicolau conseguia me arrancar sentimentos de medo e terror, mas ainda sim era segura de mim, coloquei uma uva na boca e a saberei com certo prazer. Ele disse que eu poderia ser a peça no tabuleiro que ele estava montando, disse alguma de minhas qualidades, mas logo em seguida veio a advertência, falou também sobre aquele maldito vampiro que me mordeu, cheguei a fechar a mão, estalando todos os dedos ao lembrar o momento de fraqueza que tivera... Fixei os olhos no quadro que embelezava a parede atrás de Nicolau, meus olhos chegaram a brilhar com a raiva que me possuía, iria fazer aquele maldito pagar da pior forma possível.

― Se ele não estivesse acompanhado com vampiro mais velho, Vladmus... Os dois já não existiriam mais... ― Resmunguei muito baixo, mas vampiros podiam escutar muito bem. Erros aconteciam, mas eu não gostava ainda mais depois de tantos anos e ser pega por um erro banal como aquele.

Nicolau continuou falando, e como já cometi erros, deixa-lo de escutar não iria para a lista. Ele falou sobre sua paciência e sobre seu jogo que armou, que eu não poderia ousar tocar em Speed, certamente, o sangue dele poderia ser saboroso ― Vivi por diversos anos ao lado de Humanos... Speed mesmo sendo um humano... Não será algo como uma janta... Sei que alguns humanos são mais valiosos vivos que como alimento ― Olhei para Nicolau, colocando a outra uva na boca, meus olhos pousaram no humano e depois voltaram ao vampiro, esperando novas informações. 

Nicolau olhou para ela, a vampira pareceu irritada enquanto olhava para outra parede, seus olhos se tingiram de vermelho, em seguida ela falou de um outro vampiro, Vladmus o nome não soava tão estranho, mais ainda parecia perdido em sua mente, ele sorriu para ela.

― Calma vampirinha, este será nosso segredinho, você cometeu um erro básico é verdade mais isso não importa desde que não o cometa novamente, ainda mais estando aos meus cuidados.

O que mais fascinava nela era sua maneira e forma de se adaptar, ela entendeu o recado de não atacar Speed, ele era frágil e quebradiço, poderia morrer facilmente, mais tinha serventia para ele, é pegar outro era cansativo de demasiadamente irritante.

― Você parece ser boa estrategista... Creio que se tivesse nascido nos tempos das cruzadas teria feito história, mais do que Joana Dark... Mai talvez ainda haja tempo de verem isso.

O vampiro se levantou mais uma vez ele parecia está brincando, testando a vampira de todas as formas que achava necessário fazer, ele olhou de canto de olho para ela.

― Gostaria de conhecer seus aposentos? Afinal você agora ficará aqui até que tudo se desenrole, se puder me acompanhar a levarei enquanto explico seu trabalho.

Nicolau me observava, enquanto tentava me acalmar. Pediu para eu manter a calma, que aquele deslize não era importante contanto que não acontecesse novamente. Meus olhos se fixaram nele, mas aquele assunto ainda não estava acabado, no momento que estivesse livre iria me vingar da forma mais cruel que Josh poderia imaginar.

Falou que se eu tivesse nascido em outra era teria feito historia, algo que me fez sorrir ― Não preciso do meu nome nos holofotes... Gosto de brincar por detrás das cortinas... ― Disse com uma voz baixa, notando o vampiro se levantar, ele estava próximo o bastante para notar sua estatura e seu porte físico, novamente aquele fascínio me atingia, em um simples movimento poderia toca-lo.

Disse que mostraria meu quarto, que honra ser levada pelo próprio senhor do castelo ― Ficarei aqui mesmo? ― Disse surpresa, mas sorri ― Depois do senhor ― Disse sem me mexer, esperando que ele passasse por mim. Imaginei onde Speed iria ficar e o porque ser levada ao quarto tão cedo. 

Nicolau parou alguns metros a frente dela quando a ouviu perguntar se ficaria ali mesmo, ele se virou para ela ajeitando a gravata azul escuro.

― Sim, passarei uma estadia aqui, por tanto aqui ficará até que ache necessário que vá algum outro lugar, terá liberdade de ir e vir, porem advirto total descrição ninguém deve conhecer este lugar, nem mesmo Leonard o conhece e ficará desta forma.

Ela viu o sorriso nos lábios dela dizendo que o seguiria, começou a caminhar enquanto Speed sequer se mexeu de onde estava, caminhou em direção as escadas.

― Compreenda Sophia, o poder ficou muito tempo nas mãos de incompetentes como os Volker, todos os temem por serem poderosos, mas existem alguém ainda mais poderoso... Este mundo precisa ser recriado é quero ser eu a moldar esta nova terra.

Nicolau era bastante precavido, informou que permaneceria naquele castelo em ruinas até que desejasse partir e eu ficaria ali junto, mas tinha total liberdade de ir e vir, além de que ninguém deveria saber daquele local, nem mesmo Leonard. Aquela mensagem nas entre linhas me deixou atenta, ninguém... Ninguém mesmo poderia saber daquele local, mas certamente Ethan descobriria rapidamente onde sua futura mestre estava, isto é... Se Alice o deixar pensar.

Ele sorrio quando eu falei que que iria segui-lo e voltou a caminhar, para as escadas. Speed manteve-se parado, mal parecia respirar. Imagino desde quando ele estava com Nicolau, talvez desde adolescente como Ethan? Não, provavelmente como criança, para ter tanta lealdade, era um perfeito peão.

O vampiro começava a falar, dizia que os Volkers tinham o poder por muito tempo, e de fato, todos os temiam isso não precisava nem colocar em pauta. Disse que o mundo precisava ser recriado e era ele quem faria isto. Em outras palavras ele queria dar um golpe de estado e tomar o poder, acabei por sorrir, não com malicia ou coisa do tipo, de certar forma curiosa sobre o que viria e como aquele jogo acabaria, espero realmente estar viva para ver o resultado. Mas sabia que aquelas mudanças que seria propostas por Nicolau, seriam deveras maldosas e provavelmente se temíamos os Volkers, no fim acabariam temendo mais a Nicolau.

Subi as escadas tocando no corrimão dourado, escutando os estalos do salto no chão antigo de pedra. Adorava aquelas construções ― Agora entendi porque Leonard nunca pensa pequeno... Os únicos que tenho contato estão longe daqui, por isto não vejo porque sair a noite, a não ser para me alimentar... ― Disse com uma pausa subindo alguns degraus ― O resto resolvo por telefone...

― Posso fazer uma ultima pergunta? Porque só agora resolveu agir? Seria porque só agora as peças neste jogo ocuparam os lugares que você desejou? 

Enquanto  Nicolau expressava sua visão a vampira, a fala seguinte dela o divertiu dizendo do porque Leonard não pensava pequeno, explicando que os únicos que tinha contato estavam longe é que sairia apenas para se alimentar, e que o resto resolvei por telefone.

― Que bom... Mais acredito que tedio será uma palavras que não conhecerá aqui, sobre Leonard digamos apenas que ele consegue partilhar da minha visão de que se podemos por que não temos?

Os dois estavam agora em um corretor amplo, com varias esculturas e quadros nas paredes, o vampiro ouviu quando a Sophia perguntou se podia fazer mais uma pergunta, ele fez um gesto com a cabeça enquanto ela continuou a pergunta, questionando porque resolver agir apenas naquele momento,  ou se era porque tinha todas as penas no jogo.

Com um sorriso ele parou e olhou para ela.

― Resolvi  agir agora, porque todos os meus preparativos estão em curso,  sou ambicioso mas não louco, não conseguiria enfrentar três originais ao mesmo tempo e sobreviver, muito menos com uma legião de vampiros, mas com as peças certas, posso subjugar cada um deles, então respondendo sua pergunta...

Continuou a caminhar lentamente dando as costas para ela.

― Grande parte das minhas peças estão em jogo, isso me permite uma visão privilegiada, poderei fazer as coisas correrem tranquilamente, e mesmo que não ocorra tenho um plano reserva, isso tudo surgiu como revelação algumas décadas após me transformar é deixar de ser guiado pelos instintos... Você conhece a real historia de Caim? Não a da bíblia mais a dos vampiros?

Enquanto admirava as estatuas e quadros, Nicolau falava. Falou sobre uma visão que eu começava a apreciar daqueles dois “se podemos por que não ter?” E aquele vampiro tinha tudo que ele poderia ter.

Ele escutou mais uma pergunta, imaginava quando ele iria perder a paciência. Disse que enfrentar os três originais juntos era suicídio, então ele não era tão forte? Ele caminhava e eu o seguia como uma boa convidada.

Quantas porta passaríamos até chegar no quarto? Devia ser por volta da meia noite, praticamente recém no inicio da noite e ele queria me colocar em modo de pausa, ele perguntou se eu conhecia sobre a historia de Caim, a verdadeira.

― Não... Até porque a verdadeira deve ter se perdido... E apenas quem o conheceu deve saber, onde apenas quatro vampiros devem saber com detalhes... Um deles deve ser o senhor... ― Disse, logo saberia o conto sobre o inicio da nossa raça. 

Nicolau sabia que mesmo que ela soubesse alguma coisa seria apenas fragmentos distorcido de uma história que poucos sabem ou partilham com os demais, porém ali estava um original revelando segredos a uma jovem vampira, algo que era sempre mencionado era que Caim fora o primeiro vampiro, segundo que existiam três ou quatro originais e que três deles formavam os Volker.

Mais que isso apenas boatos confusos e sem conexão.

Ela acertou a dizer que ele era um dos quatro originais, ela disse não saber muito e que a verdade estava perdida, e apenas quem o conheceu saberia.

― Sim eu sou um dos quatro nascido de Caim. ― Falou Nicolau tranquilamente.
Caminhou mais alguns passos parando diante a porta de madeira, a maçaneta era de ouro puro, abriu a porta suavemente revelando seu interior, olhou para a vampira é disse:

― Este é seu quarto, espero que desfrute do mesmo, se quiser pode trazer suas coisas, mas acredito que achara tudo que precisa aqui mesmo... Vamos entre. ― Falou aguardando que ela entrasse.

Nicolau afirmava tudo com uma calma adquirida por anos, séculos! Por mais que tentasse, ele me via como uma criança, uma vampira tão nova que mal se importava em brincar. Começava a me sentir um cão em uma coleira.

Ele parou em uma das varias portas, comentou que ali seria meu quarto, que poderia trazer minhas coisas, mas que eu iria encontrar tudo que precisasse ali. De fato, nunca precisei de muito para me virar, nunca tive um lar certo, mudando-me com frequência. Até meu apartamento que deveria ser fixo, era mais usado por Ethan que por mim.

Entrei no quarto curiosa para saber como seria, com um certo medo de que em vez de um quarto fosse uma cela ou algo do tipo, mas minha intuição diria que aquilo era paranoia de alguém que já passou por poucas e boas ― Vai me contar a historia ou me deixará na curiosidade? 

Os passos dela foram incertos, ou melhor dizendo cautelosos o que seria natural, mas se Nicolau fosse de fato fazer algo não seria daquela maneira, o vampiro a seguiu fechando a porta assim que passaram por ela.

No quarto ela perguntou se ele iria contar a história ou a deixaria curiosa, ele sorriu para ela.

― Irei contar este é meu propósito, mais tenha calma, tudo precisa de etapas, o que achou do quarto? ― Disse ele se direcionando ata uma poltrona de couro preta próximo a janela que estava coberta por uma pesada cortina.

O quarto era amplo, maior do que muitos quartos cinco estrelas, com áreas de divisa, como se algumas paredes tivessem sido derrubadas para aumentar, tendo até mesmo um banheiro, Nicolau se sentou na poltrona.

― Se acomode irei lhe contar um pouco de como surgiu os vampiros, de como uma maldição pode se tornar uma dádiva.

Seus olhos estavam fixos nela, até mesmo brincalhões enquanto imaginava o que ela poderia está pensando.

O quarto era bonito de fato, mas era igual a um quarto de hotel, sem características do dono, mesmo que sendo de hospedes. Caminhei por ele, passando a mão na colcha cor de vinho que cobria a grande cama, observando os quadros e detalhes do quarto.

Ele disse que precisávamos seguir etapas, talvez fosse isto que faltava em mim, gostava de ser direta e etapas por vezes eram puladas. Então olhei para ele ― O quarto é agradável... ― Disse desviando os olhos para a janela, normalmente minha maior preocupação nos quartos. Tirei o blaizer champagne e deixando-o encima da cama, revelando meus ombros e braços, preferia ficar mais a vontade já que escutaria uma historia interessante. E então me dirigi a outra poltrona que fazia conjunto com a que ele estava sentado.

Cruzei as pernas e olhei para o vampiro. O que ele esperava ganhar me contando aquela historia? 

Nicolau a viu caminhar pelo quarto, passar a mão sobre a cama, tudo ali era luxuoso de primeira linha, aposentos de uma princesa, ela tirou o blaizer dizendo que o quarto era agradável, se sentando na outra poltrona o encarando.

― Vejamos... Primeiro seria interessante começar pelo o que e contato na bíblia, dizem que Caim era filho de Adão e Eva, nascido após a saída deles do Jardim do Éden, após alguns anos  tiveram mais um filho este chamado de Abel.

Ele olhou para ela para saber se estava entendendo, muitos não eram conhecedores da bíblia ou das histórias ligadas a Deus, mais Maquiavel tinha um fascínio por isso, ele sorriu e continuou:

― Os dois irmãos cresceram juntos, como filhos ajudavam os pais, e suas tarefas foram divididas, Caim sendo o mais velho decidiu tomar a função mais árdua que era a de agricultor, enquanto seu irmão se tornou pecuarista, um certo dia os dois apresentaram suas oferendas a Deus, enquanto Caim ofereceu  frutos do solo em que trabalhava, Abel  ofereceu uma ovelha de seu rebanho, mais não qualquer uma a que ele mais cuidava e gostava, as oferendas dadas por Abel agradou mais a Deus, despertando em Caim um ciúme tão forte que armou uma emboscada para o próprio irmão.

Talvez aquela parte não fizesse sentido, mais era necessário para contar o que viria depois, mas para isso esta parte deveria ser descrita, e assim Nicolau o fez.

― Na emboscada Caim levou o irmão para o campo é lá o matou com suas próprias mãos, com as mãos embebidas do sangue do irmão, respondeu a Deus com arrogância, quando o mesmo o questionou. Porém aqui é onde as coisas se separam, na bíblia diz que Caim foi banido do solo, sendo condenado como um errante... De certa forma isso continuou, mais ele não foi apenas banido ele foi amaldiçoado, como castigo por tirar a vida de seu irmão, fora condenado a viver com esta culpa por toda a eternidade sem poder morrer, é para jamais esquecer o que fez a ele, teria que se alimentar de sangue para sobreviver, assim é descrito como surgiu o primeiro vampiro.

Nicolau começou do inicio, o que inicialmente era contado pela bíblia, o que já me era familiar, afinal, filha de caçadores precisava saber sobre as religiões e o que daqueles livros funcionava na nossa caça, Vampiros e lobisomens, o que sou atualmente.

Ele me olhou, parecia se perguntar se eu entendia. Talvez me tirasse para uma tonta dos tempos modernos? Quem mal sabe sobre a religião que é abordada no seu país? Fiz um movimento com a cabeça para continuar.

Ele contou parte do que contava na bíblia... Estava curiosa para saber o que mudava naquela historia, talvez o final? Logo apareceu, foi Deus quem amaldiçoou Caim, aquilo me surpreendeu! Afinal, o segundo detalhe não estava descrito em nenhum livro ― Deus amaldiçoou Caim, ou a própria humanidade? Ele apenas criou um predador dos humanos que além de imortal... Ainda é inteligente e astuto... ― Aquilo era curioso, afinal, para castigar um acabou por colocar outra raça na mira ― E como surgiram os outros três e porque, tu és o único diferente? 

A vampira parecia interessada na  historia, afinal não era sempre que se tinha tais informações raras como aquela de bom grado, assim que o vampiro deu uma pequena pausa Sophia perguntou  se Deus havia amaldiçoado Caim ou a própria humanidade, criando um predador imortal dos humanos, sendo astuto e inteligente.

Nicolau sorriu mudando a postura das pernas enquanto observava a vampira.

― Neste ponto inicial que lhe conto tudo é muito vago, sobre o quanto disse de fato aconteceu, até mesmo da existência de um Deus, creio que a maldição fora inicialmente para Caim, mais se havia algo mais envolvido nisso foi ocultado, afinal quem não consideraria viver para sempre vagando sem ter para onde ir, não podendo se aproximar de ninguém para não mata-lo... Sabendo que se ficasse com alguém mesmo controlado a sede esta pessoa morreria com o tempo?

Ela fez a pergunta que conectaria suas palavras do que era uma maldição.

― Caim não sabia o que tinha se tornado nem mesmo um nome se tinha naquela época, sempre que ele matava uma pessoa, ele a enterrava e se lamentava por isso, sem ter um dia de paz, porem em dado momento alguma coisa mudou, o primeiro transformado era um rei de um reino distante que prosperava em suas terras, em um dia de caçada o rei se tornou a caça...

Nicolau fala de tudo aquilo com naturalidade como se não fosse algo que aconteceu realmente mais apenas um conto fantástico que ninguém acreditaria.

― Este rei teve sua vida tirada, como de costume Caim o levou para o mais distante que conseguiu o deixando em uma caverna, porem este não havia morrido não ainda, além de sugar o sangue, a mordida continha um poderoso veneno que matava todos os mordidos, porem o rei se mostrou mais forte do que o esperado lutando contra o veneno, Caim só percebeu quando o rei se levantou...

Deu uma parada dramática para dar ainda mais suspense ao conto.

Nicolau continuava contanto e me respondendo ao longo da narração, ele era bem mais paciente que a sua cria! Pelo que ele falou, Caim era um bom homem e que por um deslize teve uma maldição, se não fosse por este deslize certamente, muitos não teriam morrido, porem ser ver por outro lado, quantos assassinos eu já matei? Talvez pudéssemos ver como uma benção? Em todo caso, aquilo continuava.

Revelou que a primeira cria de Caim era um rei e que em uma caça foi onde ele foi abordado. Finalmente entendeu como aquela maldição/benção funcionava, ou quase isto.

Acabei tirando as sandálias e sentando sobre uma das pernas, podendo ficar de frente para o vampiro, ele fez uma pausa que pareceu durar uma eternidade enquanto eu aguardava ansiosa. 

Após alcançar seu objetivo continuou a narrar a história ligada aos vampiros, ainda olhando  para a vampira continuou.

― Quando o rei se levantou Caim não entendeu o que estava acontecendo, primeiro ele pensou que havia aprendido a não matar suas vítimas, algo que nunca conseguia fazer por mais que tentasse, depois ele pensou que alguma coisa estava diferente, afinal décadas e mais décadas havia passado desde que fora amaldiçoado, sempre sozinho sem poder ter uma família, sempre seguindo adiante sem ter para onde ir...

A voz de Nicolau agora assumia um tom mais pesado, como ali as coisas seriam mais interessantes.

― O rei não apenas, não morreu mais assumiu a mesma maldição que Caim. Foi neste momento que o primeiro vampiro percebeu que podia passar isso adiante, em sua cabeça acredito eu, que ele deve ter ficado feliz e ao mesmo tempo assustado, afinal ele poderia não estava mais sozinho, porem condenaria outros ao mesmo fardo, o reio durante o primeiro mês, ficou faminto matando todos a sua frente, dizimando nações, por alguns fora conhecido como Vlad o Embalador, termo adquirido singelamente, por seu excepcional trabalho de embalar os corpos quase secos de sangue após drena-los, Caim tentava conte-lo mais sem sucesso, até o dia que ele  viu o rei matar uma jovem,  que parecia não entender o que estava acontecendo, com um comando ele viu a força reverberar pelo corpo do vampiro como um comando universal, Caim então percebeu que era capaz  de toma-lo se usasse a maneira correta.

Caim, se levantou, caminhando pelo quarto, abrindo um pouco a cortina permitindo que a luz da lua invadisse o quarto, enquanto apreciava ao longe as  luzes amarelas da cidade.

Observei o vampiro divagar, contando a historia até chegar em um ponto mais crucial, até o tom da voz mudou. Ele era um ótimo contador de historias, quem dirá até trabalhou neste ramo. Conseguia prender minha mente como a de uma criança.

Quando citou o nome do rei... Associei ao Vladmus que encontrei no hotel, acabou por um sorriso sarcástico se desenhar nos lábios. Seria coincidência? Provavelmente, que Volker iria servir de baba para uma criança? Encostei na cadeira olhando-o mexer na cortina, algo desagradável para mim. Mesmo sendo noite, aquilo me dava arrepios.

― Então por causa de um jovem, Caim aprendeu que os criadores podem domar suas criar? ― Disse enroscando uma mecha de cabelo no meu dedo, diversas vezes, formando um pequeno cacho que se desfazia logo que eu soltava. 

A pergunta da bela Sophia era de alguém curioso, porem ela ainda não estava entendendo a magnitude de tudo que estava sendo revelado a ela, olhando para ela ele sorriu brevemente antes de voltar a olhar para as luzes da cidade.

― Os vampiros hoje para transformar alguém precisa sugar o sangue quase todo de um humano e fazer com que ele beba seu sangue, mesmo sabendo a formula, muitos não são capazes de sobreviver ao veneno da saliva do vampiro. Mais Caim? Ele não precisava disso, apenas sua mordida já fazia a mudança acontecer, e apenas ele poderia transformar alguém sem conceder seu sangue.

A mente de Nicolau viajava como se voltasse no tempo desesperado dele de entender o que ele havia se tornado isso durou frações de segundos quando voltou para a poltrona se sentando.

― Aquele foi o primeiro contato de Caim com os poderes reais do que a maldição lhe dera, até então ele sabia que não podia morrer, que se alimentava de sangue, com o rei Vlad descobriu que conseguia transformar um humano, é que ao fazê-lo se criava um elo de ligação e obediência, após esta descoberta ele controlou o rei, sempre que este perdia o controle, porém não  o impedia o tempo todo, os dois conversavam tentando entender o que significava tudo aquilo, porem nem mesmo Caim tinha as respostas, se estabelecendo no seu reino, o rei deu abrigo ao Caim,  por um tempo  tudo parecia confuso mais que iria melhorar. Até que um reino ameaçou o reino de Vlad, nem mesmo sua fama descontrolada que se seguiu impediu de serem atacados, é neste momento Caim se viu obrigado a permitir que o rei defendesse seu povo e reino, é assim gerou anos de fúria.

Olhando para o relógio em seu pulso  Nicolau observou a hora, se movimento confortavelmente em seguida cruzando as pernas.

― Caim não se envolveu no confronto, mais viu o rei fazer o que ele não sabia ser possível, ele era forte, rápido, podendo se mesclar as sombras, tudo isso sem esforço, sempre que se enfraquecia o sangue que bebia dos seus inimigos o revigorava, após esta batalha, Caim desapareceu deixando Vlad com seu reino...

Parecia que o vampiro se perdia na historia, algo fascinante mesmo, porem onde ele queria chegar?  Falou sobre o veneno que possuíamos em nossas presas, nem todos sobreviviam isto era um fato, por isto Ethan continuava como humano.

Contou que mesmo Caim tinha suas duvidas sobre como aquilo tudo funcionava. De fato, nunca pensei por este lado, quando fui transformada tudo foi me entregue mastigadinho, os erros do processo já foram testados. Contou sobre a guerra e como seu criador sumiu.

― Você, Nicolau... Veio antes ou depois dos Volkers? ― Aquela questão pairava no ar, todos sabiam das crias de Caim, mas não a verdadeira ordem ― Depois que Caim deixou Vlad... Foi para onde? 

Como desejado sua pausa causou a curiosidade desejada, enquanto o vampiro revelava os segredos antes ocultos, dizer isso a ela poderia ser um erro, mas não havia problema Nicolau estava perto de seu objetivo, fosse para a gloria ou para o fracasso, tudo logo terminaria. Nada do que estava sendo dito de fato iria jogar contra ele, afinal ele também não tinha como provar, tudo que tinha fora relatos, livros e documentos descritos por aqueles que lutaram, fugiram ou sobreviveram.

Ela queria saber qual a colocação dele entre as primeiras crias de Caim.

― Paciência vampirinha... Precisa entender como tudo se passou, para compreender a magnitude do que estou planejando, do que quero e almejo ninguém foi corajoso ou ambicioso ao pensar nisso, e se pensaram não ousaram fazer...
Em seguida mudando o assunto ela perguntou para onde Caim havia ido após deixar Vlad.

― Por vários anos o nome de Caim desaparecer, até mesmo o relato de mortes por alguma criatura cessou, parte disso se deu a agitação causada por Vlad. Porém com sua maldição alguma coisa sempre insistia em acontecer, enquanto vivia em uma caverna recluso do mundo saindo apenas quando não tinha como se controlar e alimentar. Chegou em uma cidade.

Um brilho surgiu nos olhos de Nicolau, parecia até que descrever estes acontecimentos revirassem alguma coisa em seu interior.

― Mais o que ele encontrou foi apenas destruição, corpos caídos, cavalos fugindo, gargalhadas ao fundo, além do fogo que parecia consumir tudo, um grito chamou sua atenção, deixando seu corpo guiar correu mais rápido que o vento parou diante de saqueadores, eles seguravam uma garota loira, que estava esperneando enquanto o cara que mais parecia um ogro cheirava seu cabelo apontando uma espada para sua barriga.

Vampirinha, tai ai um apelido que nunca tinha escutado e estava pegando pela parte de Nicolau. Aquela cadeira já não segurava minha curiosidade, tive que me levantar e caminhar pelo quarto, observando os detalhes da cômoda e os objetos disposto encima dela.

Ele falou que Caim havia sumido por um longo tempo, saindo de sua caverna apenas quando não conseguiu mais se controlar. Caminhando até uma cidade que estava sendo saqueada, algo que antigamente era comum, os ladrões além de saquear, acabavam com toda a cidade.

O fato de ter muita descrição para a garota e dos saqueadores apenas “ogros”, me chamou a atenção, acabei desviando o olhar para ele, encostando as costas na cômoda ― A garota é especial porque? Seria a segunda cria? 

Para Nicolau era divertido ver a curiosidade que percorria o olhar de Sophia, ele um dia fora afoito e isso apenas o prejudicou, mas ele aprendeu com o passar do tempo, enquanto fazia um silencio mortal, a vampira se levantou caminhando pelo quarto observando tudo com um cuidado minucioso mais sem ver realmente.

Um sorriso se alargou nos lábios dele, ela se encostou em um dos cômodos perguntando se a garota era especial, e se ela seria a segunda cria.

― Devo dizer que sua perspicácia e esplêndida, apesar de está meio que evidente que estou relatando apenas os pontos de maior importância, voltando a história a espada estava pressionando a barriga dela, seus olhos vertiam lágrimas, enquanto ela gemia com um dos bandidos segurando sua boca, com um movimento bruto ele rasgou o vestido dela deixando a nua, os olhos dela revelavam vergonha, medo é acima disso tudo raiva.

Enquanto falava o vampiro queria ver a reação dela sobre estas revelações, se sentiria dó, pena ou nenhuma das reações.

― Caim neste momento, apenas fez o que qualquer vampiro faminto faria? Em um piscar de olhos ele estraçalhou a garganta de três dos saqueadores, os homens que segurava a mulher afrouxou o aperto ao ver o corpo dos companheiros caírem criando uma poça de sangue, o líder gritou dizendo que mataria aquela mulher se ele não parasse, mais Caim não se importou, avançou contra o que segurava a garota e sugou o seu sangue enquanto o grito dele se tornava silencio, no desespero  enfiou a espada no estômago nu da garota, que caiu segurando o estômago, ele correu mais não deu sequer oito passos antes de ser segurado por Caim, sendo erguido como se não fosse nada, os olhos dele se arregalaram ao ver os olhos dourados dele enquanto suas presas se mostraram, com uma velocidade feroz ele drenou o sangue dele jogando o corpo sem vida no chão, retornou a mulher é olhou para ela. Suas mãos e lábios estavam tingidos de vermelho, ela olhou para ele mais não sentiu medo.

Mesmo me elogiando, não via porque me orgulhar, até uma criança veria que o ponto principal era a garota. Ele contou que os homens a deixaram nua, mas por quantas vezes já vi crianças sendo molestadas pelo homem? Quantas destas eram da própria família? E essas fossem meninas ou meninos. Mais um relato não significava nada para mim ― O homem é o único animal que vê prazer na dor de um semelhante... ― aquele ditado representava bem o porque da minha indiferença.

Ele contou como o heroico Caim salvou a jovem, e como a viu ser perfurada por uma espada, aquilo sim doía! ― Dourados? ― Disse ao notar a falta de semelhança... Dourados eram a cor dos olhos dos vira-latas, os nossos eram rubros! Aquilo foi uma estranha novidade para mim. Caminhei até o vampiro, meus passos pareceram ser menos do que realmente seria. Em menos de nada estava.

Coloquei uma mão em cada descanso de braço, para ficar na altura do vampiro, olhando-o nos olhos ― Olhos dourados? Qual a cor dos teus olhos, Nicolau? ― Sussurrei quase sem voz. Aquilo era um atrevimento e tanto, mas gostava de me ariscar.