Holanda

O relato que os olhos de Caim eram dourados despertou interesse, não era para menos todos os vampiros tinham seus olhos em vermelho sangue apenas Caim como o primeiro amaldiçoado possuía tal cor. A vampira levantou e caminhou para mais perto de Nicolau colocando as mãos nos braços da poltrona ficando na altura do olhar dele perguntando que cor era os olhos dele.

O sorriso desapareceu quando ele olhou para os olhos dela.

― Acredito que está tomando liberdade demais... Ainda não lhe dei tanta confiança para isso. ― O tom de voz era afiada como uma navalha, causando arrepio nos tolos ignorantes que não notassem o perigo.

Ele esperou que ela se colocasse de pé e se acomodasse, ou que ficasse tempo bastante para que ele revelasse o quanto ele poderia ser “persuasivo”.

Nicolau acabou por fazer a primeira ameaça para mim. Realmente, durou mais tempo que Leonard. Enquanto o sorriso dele morria, o meu por outro lado, aparecia nos meus lábios escarlates.

Mesmo desafiando a sorte, não era tola de colocar tudo em risco. Acabei por me endireitar, ficando de pé, sem tirar os olhos dele ― Peço desculpas... ― Mesmo que minhas desculpas não significassem real arrependimento, logo todas as peças se encaixariam... Como já estavam se encaixando.

Voltei-me para a poltrona, sentando sobre uma perna, olhando para ele. Esperando que revelasse o fim da historia da segunda filha de Caim... Depois o terceiro.

Após ver a vampira se sentar Nicolau continuou, sua coragem e atrevimento eram até divertido, porém ela não poderia ser idiota ao ponto de provoca-lo sendo sabia voltou ao seu lugar se desculpando, mesmo que não houvesse verdade em suas palavras, mas apenas por entender o seu lugar já era suficiente ao vampiro.

― Voltando  a relato, o sangue da mulher se derramava  enquanto ela gemia, os olhos de Caim continuavam dourados, sua fome ainda não havia passado, a mulher tremia ele se abaixou e sem pensar duas vezes cravou suas presas no pescoços dela sugando seu sangue, o veneno  de sua saliva atordoava a dor que ela sentia,  os gemidos se tornaram prazer e ate  mesmo a alucinógenos,  porém antes de dar fim sua vida ele cessou a mordida.  Incendiou toda a cidade queimando todos os corpos menos o da garota, com um manto ele a cobriu e pegou no colo levando para a caverna onde estava.

Os olhos de Nicolau vagaram novamente, enquanto passava a mão no queixo.

― Ele não sabia se aconteceria o mesmo com o Vlad ou se aquilo havia sido um erro que aconteceu, mais ele aguardou por vinte quatro horas, até que ela voltou a vida, mais desta vez para uma vida imortal, ela se tornou fria e descrente de tudo, menos com Caim, ela via nele o seu salvador, o pai que lá não teve, sua vida humana ela deixou para trás seguindo Caim a onde quer que fosse, foi neste tempo que Caim descobriu seu poder de compulsão, compelindo os humanos a fazerem o que ele quisesse.

Nicolau voltou a contar a historia, tecnicamente a segunda Volker era um cachorrinho de Caim... Se fosse colocar raça diria que era um Doberman, frio com os demais, mas com o dono é um puddle. Queria revirar os olhos, esperava que o segundo e uma mulher tivesse mais o que dizer, mas mantive-me em silencio olhando para o vampiro.

Disse que depois de ter transformado o segundo vampiro, descobriu a habilidade que eu mais gostava. Imaginava o que mais ele conseguia fazer e o que Nicolau conseguia... Talvez o que o Leonard conseguiria... Me perdi um pouco nos pensamentos, balancei a cabeça e esperei a historia do terceiro, sendo que o que mais me interessava era a transformação de Nicolau, algumas duvidas se formaram e queria respostas. 

Nicolau olhou para a vampira a espera de alguma outra reação, mas está não o fez apenas esperou, talvez ela tenha entendido que tudo precisava passar por etapas para chegar ao desfecho necessário.

Ainda sentado quase imóvel, ele continuou:

― Para o terceiro transformado, digamos apenas que foi uma acidente de percurso, a segunda  foi uma experiência para comprovar a incerteza que ele tinha...

Fez uma pausa, quando a porta ecoou duas batidas, Nicolau se levantou e abriu a porta era uma serviçal com uma bandeira com uma garrafa de conhaque, ele pegou enquanto ela se retirava, fechou a porta é colocou na cômoda a bandeja se servindo, já havia passado algumas horas desde que aquela conversa começara.

― Pedi que trouxessem esta bebida para saboreamos, sabia que esta conversa poderia ser longa, está servida?

Disse bebendo um pouco de sua bebida enquanto voltava a poltrona.

Nicolau acabou informando que o ultimo foi um acidente, contive o riso, pois pareceu uma desculpa de mulher, onde havia engravidado do ultimo filho “sem querer”. O que levava a crer que todos cometiam os mais diversos erros.

Uma batida na porta fez o vampiro seguir até a porta, uma serviçal havia lhe entregue uma bandeja. Conhaque, uma bebida forte e antiga, usada para aquecer os corpos quando o inverno era rigoroso, mas ali quase ninguém iria usar para este fim.

Ele me ofereceu, acabei por levantar e seguir até a cômoda. Aquela conversa estava demorada e cada vez mais duvidas se formavam em minha mente. Servi uma dose e fiquei girando na taça de cristal, olhando para o liquido de coloração marrom com o forte cheiro de álcool.

― Primeiro um Rei, segundo uma mulher e o terceiro um erro? Porque um erro? ― perguntei enquanto caminhava de volta a cadeira, me perguntava que horas eram, depois do advento do celular abdiquei o uso de relógios de pulso. 

Já sentado a viu se levantar e se servir da bebida, ela mexeu o liquido escuro na taça, olhando para a coloração marrom com aquele cheiro forte que parecia agradar o vampiro, ela perguntou enquanto voltava ao seu acento, que os transformados por Caim eram os mais diversos, sendo um rei, uma mulher camponesa, mais terceiro um erro, ela questionou o porquê.

― Você me entendeu errado... Eu não disse um erro, disse acidente de percurso, o motivo para isso é muito simples, o terceiro original era um mercenário, um assassino de aluguel, ele vivia seu próprio código de honra, após os vários anos de ataques e mortes as cidades estavam com medo, sem saber o que pensar se era um monstro ou um homem.

Pausou o relato para degustar mais um gole de sua bebida, levando a taça ao nariz deixava o aroma do conhaque preencher seus pulmões o fazendo se lembrar de um passado distante.

― Com isso em mente  vários vilarejos se uniram para contratar alguém capaz de caçar e matar quem quer ou o que quer que fosse o causador de tanta morte e massacre, um homem apenas possuía tal fama, ele recebeu metade do pagamento ao chegar no vilarejo responsável pela oferta, o restante apenas após a conclusão da missão trazendo uma prova que fora capaz de matar a criatura, se o trouxesse além do ouro e da prata foi oferecido a ele quatro jovens virgens...

Os lábios de Nicolau se abriu em um sorriso.

― Oferta bem tentadora não acha?

O terceiro era um assassino... Aquilo me surpreendeu bastante, tanto que deixei transparecer. Tomei um gole da bebida e sentei-me de volta no meu lugar, desta vez cruzando as pernas e encostando para trás olhando para o teto todo desenhado em peças de gesso.

― Um assassino cruel então? ― Sussurrei, levando o copo aos lábios e degustando aquela bebida ― Ouro e prata para caçar um assassino? Quem dera voltássemos há esse tempo... Dinheiro e diversão em um único negocio ― Velhos hábitos nunca se perdia. Eu era uma caçadora e isto nem mesmo a imortalidade ou o veneno de Leonard poderiam tirar de mim, Leonard até gostava, criava os vampiros e me fazia caça-los para a sua diversão... Quantas florestas e labirintos submersos já cacei? Um sorriso se desenhava nos meus lábios, a excitação de uma caçada naquelas condições eram até melhores de quando era humana.

― Sangue de virgens é ótimo... Porem ultimamente está se tornando um liquido raro... ― Não olhava para o vampiro, mas para um quadro na parece, era famoso, mas ainda sim não reconhecia de quem eram os traços ― Caim foi caça-lo ou o terceiro que era o caçador? 

Ela perguntou se era um assassino cruel enquanto olhava para o teto, levou o copo aos lábios bebendo sua bebida, falando dos prêmios que ele teria caso conseguisse o grande feito lembrando como aquele tempo era único.

― Ele não era um assassino, mais sim um mercenário, assassino aceita apenas matar, já o mercenário está disposto afazer o que for pelo que deseja, seja matar, torturar, capturar ou ser apenas um guarda costas.

Um sorriso se desenhou nos lábios dela, mais não era o tipo sedutor mais de desejo e necessidade, ela falou do sangue das virgens, porem um item que estava sendo bem raro.

― Não acho sangue de virgem tão bom assim, e as virgens era um prêmio bônus talvez para motivar um homem que vive um dia de cada vez, era uma oferta que mexeria com qualquer um, ele poderia pega-las se quisesse mais qual seria a graça?

Os olhos dela se prendiam além dos olhos de Nicolau ainda distraída perguntou se Caim iria caça-lo ou ele seria o caçador.

― Bem digamos apenas que quem um dia caça, um dia pode ser caçado, Caim não era do tipo que sentia prazer em massacres, isso acontecia quando perdia o controle, ele diferente dos transformados parecia sentir de fato o que era uma maldição sempre lutando com ele lado sombrio, porém agora ele era seguido por uma vampira descontrolada que tinha fome sempre, não demorou para que o caçador achasse o rastro dele, ou melhor deles, pois Caim fosse agora a vampira o seguia...

Pausando secou seu copo em apenas um gole, olhando para Sophia.

― O caçador a achou... Porém não acreditou o que viu, uma bela mulher atraente quase uma deusa diante seus olhos segurando o corpo de um homem, seus passos quebraram um galho revelando sua posição ela soltou o corpo inerte, se virou revelando os lábios vermelhos, o caçador parecia assustada, ela avançou contra ele rapidamente, mais por instinto ou reflexo, ele usou seu punhal de prata para cortar a mão dela, onde saiu fumaça do corte, a fazendo gritar e desaparecer durante a noite, se misturando a sombra.

Acabei tento que me segurar para não rir, ainda com o sorriso nos lábios. Imaginava a sena, uma camponesa descontrolada atrás de alguém que tinha Vlad como sua primeira cria. Achava graça, pois sempre notava que as novas crias tinham crises existenciais quando matavam alguém, ainda mais mulheres.

― Por um breve momento senti pena de Caim... ― Olhei de canto para o vampiro ― Único totalmente descontrolado que eu já vi, foi uma cria do Leonard... ― Meu sorriso era quase uma risada ― Ele tinha raiva da vida e do mundo só podia! ― Era hilário ver que aquilo também aconteceu com Caim.

Como Nicolau, acabei tomando um gole mais longo do conhaque, soltando a respiração logo depois e voltei a olhar para o teto, com a taça encima do abdômen ― Foi ai que o Caim descobriu que prata machuca mais? ― Perguntei, lembrando da primeira vez que fui ferida com prata, não foi nada agradável. 

Assim que terminou o relato Nicolau notou o sorriso nos lábios da vampira, como se ela estivesse imaginando alguma coisa engraçada, em seguida disse que sentia pena de Caim por apenas um breve momento, completando ao dizer que so havia conhecido apenas um vampiro totalmente descontrolado, que era uma das crias de Leonard, o sorriso se alargava ainda mais em sua fase.

― Não tenha pena de Caim ele causou tudo o que sofreu de um jeito ou de outro, e sobre o descontrolado que viu, afirmo nem de longe é como Caim pode ser ou como a transformada se tornou por alguns séculos antes de adquirir discernimento das coisas.

Nicolau a viu  secar sua bebida assim como ele tinha feito,  ela perguntou se fora naquele momento que Caim descobriu que prata machucava, de certa forma sim, fora naquele momento.

― Algo que Caim descobriu com o tempo é que ele podia se conectar aos seus transformados, esta ligação só e possível com os originais, por terem sido os primeiros e únicos que ele transformou, ele conseguia sentir a dor que cada um sentia, no começou ele sentia o flagelo que Vlad sofria nas guerras e massacre, assim como a sua nova transformada, mais com o tempo aprendeu a controlar.

Os olhos de Nicolau brilhavam de forma perigosa e divertida.

― Mais voltando ao terceiro original... Após o encontro com a bela vampira, ele acreditou que ela era a causadora de todos os ataques, mesmo sem entender como ou porque ela fazia o que fazia, por um tempo ele achou que ela era um demônio, mesmo a ferindo com prata, por alguns meses nada estranho foi comentado, era como se ela tivesse deixando a poeira abaixar, até que um pequeno vilarejo  foi massacrado, não sobrando nada além de escombros e corpos mutilados, seguindo as pistas é trilhas ele chegou uma caverna... Sim Caim gostava de cavernas, pois o lembrava de sua vida simples e mortal que levava depois de todo o acontecido.

Nicolau disse que nada que eu vivi, poderia se comparar ao que Caim viveu, algo que realmente duvidava. A mente humana é algo complicado de lidar, cada transformação era diferente uma da outra. Lembro-me pouco de quando fui transformada, um animal cheio de inseguranças...

Meu pai me treinou bem, para aprender a me controlar, os sentimentos e os anseios... Leonard me treinou para seguir suas ordens como uma caçadora particular... Agora Nicolau queria usar a união dos dois para seus fins... Uma obra e tanto do destino.

Caim carregava um peso que só ele conhecia, isto era um fato, pois todos os vampiros existentes partiram inicialmente dele, um efeito domino. Ele contou sobre uma cidade dizimada, será que a transformada não tinha noção nem de crianças? Está sim era perigosa.

Falou sobre uma caverna, pois Caim gostava de relembrar sua vida mortal, seu bem como ele se sentia ― Sentir o que a cria sente... Isso sim é interessante... ― Disse olhando os olhos de Nicolau, ele era misterioso e o pior de tudo, que todas as questões que se formavam eram em volta dele.

Nicolau deu seguimento ao seu relato, quando a parte de sentir o que os seus transformados pareceu chamar a atenção dela.

― Isso ainda hoje é comum, porem não com a mesma magnitude do que do Caim, como sabe todo transformado existe um elo de ligação é lealdade com seu criador, ele querendo ou não, porem  com Caim esta ligação era tão poderosa que ele poderia ver pelos olhos deles, senti o que eles sentiam, até mesmo ler seus pensamentos, se fosse de seu desejo controlar seus atos, como comprovou com Vlad.

Se levantando e caminhando pelo quarto o vampiro deu seguimento em seu relato como se estivesse refletindo para si mesmo.

― A caverna era distante de tudo é todos, com uma tocha em mãos o mercenário adentrou cautelosamente na caverna esperando encontrar a bela mulher ou sua verdadeira forma, que para o caçador poderia ser uma criatura horrenda, a luz ia invadindo, penetrando a escuridão até que ao longe viu dois olhos amarelos. Ele se aproximou com a tocha revelando um homem... Suas mãos cobertas de sangue, seus lábios vermelhos, sua calça preta suja, e a camisa aberta em um tom bege revelando todo o seu corpo definido.

Segurando um livro que havia na cabeceira da cama leu o titulo dourado, dizia: “ O Conde Monte Cristo”, era um dos livros que Nicolau apreciava não pela forma contada mais pela real historia retratada.

― O tolo mercenário nem com toda sua velocidade foi o bastante para ele, a vampira não estava ali apenas Caim, com uma espada de prata atacou rápido e forte para um humano, mais tais ataques pareciam lentos para Caim ainda mais depois de se alimentar de todo um vilarejo, ele ainda estava fora de si em seu momento de descontrole,  segurando o pulso do assassino de aluguel  ele torceu fazendo a espada cair no chão, ele sentiu o sangue circular em suas veias assim como o coração batendo, um ritmo hipnótico. Deve imaginar como deve ser isso, porém o seu desejo é apenas um reflexo desta sensação em Caim isso era violento, sem pensar ele mordeu o mercenário, sugando seu sangue ele lutou, se moveu e chutou mais nada adiantou, após sentir o corpo desfalecer, o largou em um baque no chão...

Nicolau voltou a relatar. Disse que é comum até hoje os criadores sentir o que a cria sente, não lembro de Leonard relatar algo do tipo, talvez ele fosse muito sádico para revelar algo do tipo e a única coisa que ele realmente se importava era com o copo com Scott envelhecido, sentado em sua cadeira de couro em sua cobertura... Homens.

Ele levantou e caminhou pelo quarto, analisava cada passo que ele dava. Era um homem e tanto, estranhava ter este tipo de pensamento, mesmo que ele fosse alguém atraente ainda era perigoso, quem em sã consciência pensaria em algo carnal com um predador como aquele? E quem disse que eu era santa?

Endireitei a postura e coloquei o copo de lado, encima da mesinha que ficava entre as poltronas, descruzei as pernas deixando os joelhos juntos enquanto brincava com o cabelo, olhando-o de cima a baixo. Escutando aquela curiosa historia.

― Então a terceira cria, nasceu de um termino de sede incontrolável? ―  Aquele tipo de erro era normal, até mesmo para Caim, que se continha para não matar as pessoas. Era interessante o modo que ele contava, mas o livro me chamou a atenção. Acabei sentando para frente, olhando para o livro ―  O conde Monte cristo? ―  Perguntei curiosa. 

Muitos dos segredos envolvidos em relação aos Volker estava sendo revelado como um corpo belo e escultural de uma mulher que tinha suas roupas despidas, assim continuava Nicolau, a vampira olhava de forma curiosa, que poderia ser fascínio, ou desejo independente disso ele continuou a caminhar segurando o livro em suas mãos.

Ela continuou o olhando enquanto brincava com o cabelo, perguntou se a terceira cria havia nascido de um termino de sede incontrolável, sorrindo ele falou.

― O que não podemos negar é que o terceiro possuía fibra, Caim sugou seu sangue quase tudo, mais por algum motivo o mercenário era resistente, quando Caim estava nestes momentos de cegueira, ele não distinguia, criança, homem ou mulher ele consumia tudo sem pensar.

Continuou ele se sentando na cama segurando o livro de capa vermelha e letras douradas despreocupadamente.

― Como disse era uma maldição terrível que apesar de suas crias carregarem parte dele o fardo maior era dele, apenas os nascidos de Caim se transformam assim, os demais precisam estar quase morto e ter sangue de vampiro no organismo, os mordidos por Caim sofriam a mutação penas pelo veneno de sua saliva, os nascidos dos originais nasceram assim mais só descobriram isso muito tempo depois...

Disse Nicolau divagando quando ouvi a vampira falar o nome do livro.

― Exatamente. Conhece a história? Ela não e baseada em uma história real, porem ela não é completamente fictícia.

Nicolau se sentou na cama, estranhei, mas ele deveria estar cansado de ficar sentado na poltrona, algo mais macio seria bom, mesmo que eu me negasse a chegar perto, não por medo, mas por desejo.

Falou sobre a maldição ser diferente, as transformações das crias de Caim, para as demais. Imaginava como um dos originais teve a ideia de deixar o quase morto, beber do seu sangue ou poderia ser um acidente? Certamente seria um acidente!

Pensando neste assunto, ainda não havia me alimentado, mas aquele pequeno desconforto teria que aguardar, estava curiosa sobre a ultima transformação. Balancei a cabeça em sinal de não. Não conhecia de fato aquele livro, mas sabia que tinha feito um filme dele e mesmo assim não tive a curiosidade de ir ver ― Conta a historia de quem neste livro? 

Os olhos da vampira parecia revezar entre o livro e Nicolau, ela perguntou o que contava a historia.

― Bem apesar de dizer que a historia não é baseada em fatos reais, ela e inspirada em acontecidos que aconteceu com Pierre Picaud. A historia é um romance de literatura francesa, as paginas deste livro contra a historia de um marinheiro que fora preso injustamente, para ocultar o crime de outros, na prisão ele conhece um Clérigo a quem cria uma amizade, porem o clérigo morre ainda na prisão, depois disso o marinheiro escapa adquirindo uma misteriosa fortuna recebe o titulo de conde e volta para se vingar dos que o prenderam, seu nome e Edmond Dantés.

A historia possuía sua beleza particular, talvez Nicolau se sentia de certa forma como o marinheiro, preso injustamente ou pelo menos ele pensava assim.

― O fato é que ele almejava apenas uma coisa sua vingança, ou justiça como preferir colocar, com o titulo é riqueza ninguém sequer o reconhece acho que aquele marinheiro estava morto, porem ele não usa apenas a força nem sua riqueza, ele é habilidoso e cria um plano que faz com que pouco a pouco todos vão se destruindo.

Mais um sorriso surgiu na face de Nicolau como se tal historia fosse mais que um romance fosse, uma divina tragédia.

― Bem espero que leia, acho que poderá gostar, houve um filme não é ruim mais nem de longe supera o livro.

O vampiro me indicou o livro para ler, não sei se ria ou se via aquilo como algo serio. Ele deu uma sinopse do livro, mas não estava curiosa com a transformação dele e não com o livro.

Acabei me levantando, caminhando até a cama estendendo a mão para que ele me entregasse aquele livro que estava em mãos. Olhei para ele sentado na cama, queria saber porque ele ficou irritado por perguntar a cor de seus olhos, algo tão comum...

― Porque está historia lhe encanta tanto? É sobre alguém que conhece? 

Mesmo após toda a descrição superficial do livro a vampira não mostrou tanto interesse, estava ai um defeito dos vampiros achar que por serem imortais não possam aproveitar algo tão simplista como uma história.

Nicolau a viu levantar da cama, estender a mão em sua direção, imediatamente ele entendeu que ela queria o livro, sem resistência ele a entregou, ela perguntou porque a história o encantava tanto é se era de alguém que conhecia.

― Se desejas saber o que me encanta terá que ler é descobrir, quando o fizer talvez possamos debater suas teorias, é de fato ela me faz lembrar alguém.

Falou o vampiro se colocando de pé, ele tocou seu bolso e retirou um aparelho celular uma modernidade que muitos vampiros ainda se recusavam a usar, Nicolau olhou para o monitor é depois o guardou.

― Tenho que resolver alguns assuntos, pode se acomodar da forma que desejar, caso precise terá criadas para servi-la, descanse se desejar o sol não demora a nascer, nos falaremos novamente.

Disse ele se dirigindo a porta.

Ele me entregou o livro quase sem pensar, analisei e folheei as paginas e olhei para a capa, lendo o autor e depois olhando para Nicolau ― Primeira coisa que me pedes é para ler um livro? Pensei que iria querer algo mais... físico ― Disse, com uma voz baixa e calma, não era sedutora, mas podia ser.

Ele se levantou olhando para o celular, respirei fundo e acabei sentando na cama, sobre um dos calcanhares, olhei para ele que dizia ter assuntos a tratar, ficaria sozinha... Aquela noite não passou, ela simplesmente voou! Puxei o celular para olhar a hora, me surpreendendo e acabei sorrindo.

― Nos vemos depois então... 

Nicolau havia conseguido seu objetivo, deixando as perguntas certas no ar, mais com algumas respostas em mão, ele abriu a porta é olhou para ela.

― Não se preocupe sobre contato físico, logo, logo terá isso, então aproveite sua folga, pois as coisas logo começaram a esquentar, espero que não me decepcione estou reservando uma cena especial para você no meu espetáculo.

Nicolau sorriu, um sorriso sombrio que dizia que era capaz de grandes coisas, e muitas delas não eram boas.

― Acredite que nos encontraremos, Speed estará resolvendo algumas coisas para mim, mais se precisar dele deixe um recado com as serviçais e ela repassara a ele. Tenha um bom dia...

Finalizou Nicolau fechando a porta, seu sorriso desapareceu ele pegou seu aparelho, discou o número rapidamente, enquanto descia as escadas.

― O que foi? Porque desta mensagem? ― Perguntou com uma voz com certa frustração

Nicolau falou mais um pouco, disse que não era para eu me preocupar que logo teria ação, acabei rindo de leve e acenei com a cabeça, antes dele fechar a porta, me avisando que se eu precisa-se de algo era só chamar uma das serviçais.

Logo que ele fechou a porta me joguei para trás, respirando mal folgado, querendo ou não a presença dele me deixava nervosa. Peguei o celular, lendo as resmungas de Ethan, que não era baba de um pequeno demônio, imagino o que Alice havia aprontado. Sem demoras, digitei o numero do meu adorável espião.

―  Não reclama não... ―  respondi logo que escutei a primeira respiração dele.

―  Como não? Você me deixou uma psicopata! ―  disse ele indignado...

―  Haha... Se eu te contasse onde estou, você iria ver como está no céu... ―  Ele ficou em total silencio, como se pensasse.

―  E você não vai falar... ―  Exatamente... Preciso de um favor... 

Enquanto seguia para o seu escritório ouvia a pessoa do outro lado relatar algumas informações que não pareciam nada agradável aos ouvidos de Nicolau, frustrado entrou no escritório.

― Como você deixou isso acontecer! ― apesar de seu tom baixo era agressivo.

Seus dedos tamborilavam na mesa de carvalho, fazendo um barulho oco e agudo.

― Não há desculpas que justifique isso... Terei que resolver este assunto pessoalmente, nunca manter alguém fazer o serviço que só você pode e deve fazer.

Desligou o aparelho o jogando sobre a mesa.

― Speed...— Chamou o vampiro enquanto uma sombra surgia diante a luz pálida do escritório.

Para um humano ele parecia ser quase um ninja sendo imperceptível, estando sempre no lugar desejado.

― Terei que me ausentar, fique de olho em nossa convidada, tirei as dúvidas que ela tiver, porém não revele tudo qualquer problema me avise, não devo me demorar.

Ethan demorou para responder, mas como sempre me obedecia ― O que desejas??

― Pegue Alice e a leve para Índia... ― escutei a respiração irritada do garoto enquanto me deitava para trás ― Em Jaipur existe uma senhora da casta Brahmanes, mandarei o endereço quando chegar na cidade.

― Ela é uma das suas? ― Perguntou Ethan curioso, me arrancando um risada ― É por isto que está vivo até hoje... Inteligente como sempre... Ela ajudará a garota em suas brincadeiras de mal gosto e controlará ela até que eu volte a ter tempo livre.

― Não preciso mais bancar a babá?! ― Perguntou ele, com falta de respeito, por sorte eu não ligava para isto, contanto que seja útil para mim.

― Exatamente, depois você voltará para Amsterdã... Lá você terá que ter o triplo de cuidado, reconhecer o território para mim...

Ainda com o sol por nascer, Nicolau pediu que Speed preparasse o carro ele iria partir antes do sol nascer, uma das vantagens de ser um original era que não precisava se preocupar com o sol, ele percebeu isso quando cruzou com vampiros criados por seus irmãos que o caçavam, como eles viraram cinzas quando o sol tocou sua pele, mas ele não sofreu estes efeitos.

O carro estacionado das ruínas daquele castelo era um jaguarXF, azul escuro, discreto mais elegante, Nicolau sorriu ao entrar no carro aquele cheiro de carro novo ainda preenchia o seu interior, ele olhou para seu subordinado.

― Não vou me demorar, preciso preparar Sophia para os eventos que logo se iniciaram, apenas fique de olho para que ela não estrague tudo, caso ela cause problema me chame, tem os contatos de alguns vampiros de minha confiança pode chama-los para conte-la se chegarmos ao extremo, percebi que a curiosidade dela pode ser uma faca de dois cumes.

Sem mais ligou o carro fazendo o motor rugir apenas  até acelerar para sentir a leveza e velocidade daquele veículo, atrás dele os raios de sol começavam a surgir no horizonte.